Ela se olhou no espelho. Viu a silhueta por debaixo das roupas largas. Sentiu o tecido que lhe tocava a pele de forma suave. Acariciou os cabelos da cabeça. Sentiu com a ponta dos dedos que seus lábios eram, de fato, macios.
Sentiu calor.
Tirou a calça roxa que ficou jogada sobre a cadeira. Pode notar a calcinha cor de pele, já velha e desgastada, quase sem elástico, que deixava os pentelhos escaparem e se escondia por entre as nádegas volumosas. Notou aquela pinta que existe bem sobre a nádega esquerda. Se permitiu admirá-la.
Virou de frente.
Se demorou naqueles pentelhos que escapavam. Por que não haveriam de escapar? Quem os haviam condenado a prisão de algodão? Levantou uma perna lentamente, viu o volume que, juntos, eles tinham. Gostou do que viu.
Se demorou um pouco mais nos quadris. Com a ponta dos dedos, seguida de perto pelos olhos sedentos, acompanhou a linha entre a pele e os ossos, os ossos e a carne... Pulou por cada pinta, cada estria, cada marca...
Notou a barriguinha saliente que habitava mais acima. O conjunto dessa obra sempre fez muito sentido. O umbigo bem desenhado, o corpo carnudo com pequenos ossos saltados.
Se abraçou.
Acariciou os braços. Puxou levemente a alça da blusa e admirou por um instante a tatuagem sobre o ombro esquerdo. Cada pedaço de pele colorida gritava e ardia de desejo e saliva. Num puxão tirou a blusa e ficou a admirar o sutiã. Talvez a única peça de roupa disforme ali... Achou-o muito estranho e se perguntou o que ele fazia ali.
Com uma das mãos puxou o botão que ficava entre os seios. Ele saiu rápido e ligeiro num poup-up. Se inclinou para esquerda buscando ver a pinta que sabia se esconder no seio direito. Ali estava ela... Admirou novamente o conjunto da obra. Tudo parecia perfeito.
Ficou satisfeita.
Desejou por um segundo que alguém a tocasse, a beijasse, a percebesse... Desejou um pouco mais que alguém entendesse esse corpo perfeito em suas imperfeições. Desejou sentir o mais profundo desejo, o que estremece e faz esquecer. Desejou nunca ter que pedir por ele... Desejou nunca ter que desejá-lo. Desejou que ele apenas fosse...
Aumentou o som...