Essa coisa de consentimento é realmente tensa. Na minha vida pelo menos, sempre foi. Eu, como a maioria dos seres q veio ao mundo com vagina, útero e ovários, fui educada a sempre consentir. Acho q dispensa maiores explicações. Mas acho q sempre tive uma veia na discórdia. Nunca aceitei engolir coisas q me desagradavam. Me lembro aos 15 anos, um namoradinho de escola me recriminando um dia pq coloquei uma saia curta, disse q eu não iria sair com ele se não trocasse de roupa, ao q eu prontamente assumi q significada sair sem ele... Saí andando e o deixei parado no portão com cara de taxo, ele demorou um pouco pra entender... Sempre fui mto de falar, de deixar tudo mto claro. Quem me conhece sabe q transparência é uma marca minha.
Nesse meus caminhos por feminismos e afins já andei remexendo mta coisa lá no fundo de mim mesma. Mas algumas coisas ainda são meio obscuras, me parecem ainda meio sem resposta... Eu olho e me sinto meio perdida. Como vou lidar com isso agora? E essa do consentimento é uma delas. Eu gosto de me relacionar sexualmente com homens. Não q eu não me sinta atraída por outras formas e outros corpos, veja bem. Mas eu tb gosto de homens, e isso, em mtos momentos me é bastante problemático. Pq essa coisa de homem feminista... olha... sinceramente... eu tô colocando no rol dos seres mitológicos... junto com unicórnios, sereias, centauros, duendes, deuses e diabos... Já andei rodando entre homens anarquistas, veganos, e com mais uma meia duzia de rótulos q faz tudo parecer bonitinho... Ele começa a citar Emma Goldman e eu fico lá achando q talvez ele tenha o discurso da boca pra dentro tb.
"Encare o fato de frente", eu tenho repetido a mim mesma. O mundo é machista! Ponto. Eu sou machista. Todo mundo é machista. O fato é q a grande maioria de nós avança, desconstrói um tanto de coisas, mas ninguém é capaz de fazer tudo... de modificar tudo... e eu fico ali, olhando pros meus escombros, tentando entender o q levantar no lugar. E me lembro de uma frase de uma prof feminista certa vez, q ouvi através de uma prima e amiga q era sua estagiaria. Ela dizia "onde vc guarda o seu machismo?". Nunca me esqueço. É isso mesmo. Temos q encarar q somos todos machistas e seguir na luta pra desconstruir o q ainda resta pra podermos erguer coisas novas no lugar. E eu ando chegando a conclusão mto séria, q esses homens, seres fálicos, penianos, guardam seus machismo no ato sexual!
Já andei tento algumas experiência controversas com esses moçoilos. Mas recentemente teve um q me deixou bolada. Bolada de verdade. Eu conheço o cara faz alguns meses, nos conhecemos aí pelos movimentos sociais da vida. Esse mesmo padrão: anarquista, fala de teoria queer com desenvoltura... a coisa foi se desenvolvendo naturalmente, ninguém precisou apertar nenhum botão pra q um dia a gente chegasse a conclusão de q ia rolar sexo. Logo de cara ele tentou colocar o dedo no meu cu.
NOTA: eu não curto coisas no meu cu! Esse assunto já andou rolando por aqui. Para relembrar vejam: http://coletivocaju.blogspot.com/2011/08/cocozinho.html
Bom, eu deixei claro pra ele q não estava gostando. Ele fez uma cara de quem está levemente desapontado, mas parou e nós seguimos em frente. Ok. Num outro encontro lá vem ele novamente. Eu, naquele momento, parei e disse com todas as letras q não gostava e não queria q ele fizesse novamente. Ele riu meio com ar de quem pede desculpas, eu fiquei levemente bolada, mas acabei deixando passar. E assim começaram pequenas investidas da parte dele, todas em tom de brincadeira... até q um dia, umas 2 semanas depois da gente ter começado a se envolver, lá vai ele novamente com seu dedo. Foi demais. Parei tudo, já puta da vida, e falei "qual foi a parte do eu não gosto disse q vc ainda não entendeu?". Ele me olhou meio sério e perguntou "pq? doeu?"
Eu: não doeu, não sinto dor, simplesmente não tenho prazer
Ele: vc está insegura?
Eu: eu já te expliquei q não me sinto insegura, q só não curto. O q q ta difícil de entender?
Ele: eu acho q vc ta insegura
Eu: vc ta dentro do meu corpo ou da minha cabeça pra saber como eu me sinto?
Ele: não
Eu: então! A única forma q vc tem de saber como eu me sinto é através do q eu te digo q sinto, e eu estou sendo bem clara
Ele: mas é q isso é algo q me da prazer, em mim, no meu cu
Eu: e o seu corpo funciona igual ao meu?
Ele: não
Eu: então pronto! Acho q vc já tem sua resposta, né… ou eu ainda preciso explicar?
Nessa hora ele ficou meio puto e disse q talvez isso inviabilizasse a gente de ficar junto. E eu questionei "o fato de eu não gostar de dar o cu inviabiliza a gente ficar?". Ele disse "talvez". Eu fiquei puta. Aí eu falei q se tinha tanta necessidade de comer cu q o mundo ta cheio de cus q gostam de ser comidos. Pq o meu???
Nessa hora eu entro no retrospecto da minha vida sexual e conto nos dedos de uma mão, e não preenchem todos os dedos, os homens com quem me relacionei q não fizeram pressão pra comer meu cu, mesmo eu já havendo deixado bem claro q NÃO GOSTO!!
E aí entra a nóia de quem foi educada para consentir. A pressão é tão grande q eu acabo entrando numa vibe de me questionar se eu não estou errada de alguma forma. Mas não naquele dia, não depois de tanto q já avancei aqui com as minhas desconstruções. Talvez no passado, talvez com outros caras. Tive um namorado certa vez q TODA vez q tínhamos relação ele insistia, pedia, quase implorava. Certo dia eu bebi demais e lá foi ele. Eu, meio alterada, na hora não contestei, lembro de pensar "sei lá... vai q hj é diferente". Mas não demorou pra voltar aquela sensação de cagar... Eu fiquei ali alguns minutos me convencendo de q eu não estava cagando, não ia sair merda... Até q não deu e pedi pra parar... Mas naquele dia eu já sabia a resposta, já sabia q não era eu quem estava errada, já sabia pra onde ele, pseudo-libertário, tinha varrido seu machismo.
Naquele dia fui dormir puta. No dia seguinte conversamos. Eu disse "vc quer uma coisa q TE dá prazer e eu TENHO q aceitar? pq? pq vc é o homem e seu prazer vale mais?" e ele ficou calado e por fim disse q talvez eu tivesse razão e q ninguém nunca apresentou as coisas pra ele assim. Naquela hora cheguei a ficar sem reação. Como assim ninguém nunca te apresentou as coisas dessa forma?? Como assim vc anda por aí com esse cabelo desgrenhado e essas camisetas com frase de efeito, lendo livros subversivos, e é incapaz de subverter suas próprias relações? Com que tipo de pessoa vc se relacionou até hoje?
Mas a verdade é q eu fui incapaz de fazer todas essas perguntas naquele momento. Essa conversa voltou a tona em outros momentos. E eu cheguei a dizer a ele, com todas as letras, q o q ele estava fazendo chama-se ESTUPRO!! "Não consigo entender como vc é capaz de sentir prazer sabendo q a outra pessoa não está, sabendo q a outra pessoa está bastante desconfortável com a situação. Essa É a lógica do estuprador!!"
Sim! Essa é a lógica do estuprador! Eu repito!
Não estou aqui, de forma alguma, dizendo q mulheres não sejam capaz de abusar. Mas minhas experiencias com mulheres, pelo menos até hoje, sempre foram muito diferentes. Elas parecem mais atentas, mais preocupadas. Não posso falar por todxs, mas eu, pelo menos, não consigo pedir a alguém para fazer algo, mesmo q seja algo q eu goste mto, se sei q a pessoa estará em profundo desagrado. Acho q sou incapaz de sentir prazer nesse tipo de situação.
Uma coisa é você dizer que, mesmo que algumas práticas não se configurem como suas preferidas, elas são válidas para satisfazer x parceirx. Outra é exigir q x parceirx se engaje numa atividade da qual não só não goza como repudia.
É, com algumas pessoas, certas posições e práticas não vão rolar. Não, isso não é um problema. Fique atento: a mídia vende para nós a ideia de liberdade sexual como algo que pode ser medido, tanto pela quantidade de sexo, quanto pela de parceiros ou pelo número de práticas que você topa. Isso não é liberdade, pelo menos não como eu entendo...
É, com algumas pessoas, certas posições e práticas não vão rolar. Não, isso não é um problema. Fique atento: a mídia vende para nós a ideia de liberdade sexual como algo que pode ser medido, tanto pela quantidade de sexo, quanto pela de parceiros ou pelo número de práticas que você topa. Isso não é liberdade, pelo menos não como eu entendo...
O que acontece nessas situações é muito simples: homens brancos revoltados com a perda de um de seus maiores privilégios, que é dispor dos corpos e dos "corações" (por falta de palavra melhor) das mulheres. É muito fácil para o homem se rebelar contra o que quer que seja: o sistema inteiro está dizendo que o mundo é de vocês por direito! Seja o Deus cristão, seja a biologia positivista, vocês estão acostumados a discursos que lhes delegam não só o poder sobre o planeta como sobre a maior parte da espécie humana - tudo que não seja branco, homem e heterossexual é de vocês para dominar, segundo nossa sociedade. Então, esse homem a quem tudo foi legado se vê, por exemplo, numa sociedade de classes em que outros homens (burgueses, por exemplo) lhes negam poder, e então se revoltam contra seus opressores. Fácil se rebelar.
O difícil é superar o paradigma iluminista que estabelece a SUA subjetividade como o parâmetro da razão. Difícil é perceber que SIM, VOCÊS SÃO OPRESSORES. Sua mera existência está implicada em relações de poder: o fato de você poder andar na rua 2 da manhã sem se perguntar se vai ser hoje que você vai ser estuprado e morto já torna a sua visão de mundo radicalmente diferente da minha. NÃO, CARA, VOCÊ NÃO ME ENTENDE. Quer as boas notícias? Para me entender, você vai ter que negar a lógica de poder que te beneficia. Quer a boa notícia? Para você me entender, entender minha opressão, entender minha vida, entender meu corpo, você só tem uma coisinha a fazer: ME OUVIR. Ouvir com alteridade, ouvir com a compreensão de que a sua visão de mundo não é pura nem universal, mas subjetiva e pessoal, e que você tem que ouvir mulheres, gays, lésbicas, trans, negrxs, e outros, para entendê-los.
Negar a lógica do poder, construir um consentimento verdadeiro é OUVIR SEM LANÇAR SOBRE O OUTRO O SEU OLHAR COMO SE FOSSE ISENTO E UNIVERSAL.
O difícil é superar o paradigma iluminista que estabelece a SUA subjetividade como o parâmetro da razão. Difícil é perceber que SIM, VOCÊS SÃO OPRESSORES. Sua mera existência está implicada em relações de poder: o fato de você poder andar na rua 2 da manhã sem se perguntar se vai ser hoje que você vai ser estuprado e morto já torna a sua visão de mundo radicalmente diferente da minha. NÃO, CARA, VOCÊ NÃO ME ENTENDE. Quer as boas notícias? Para me entender, você vai ter que negar a lógica de poder que te beneficia. Quer a boa notícia? Para você me entender, entender minha opressão, entender minha vida, entender meu corpo, você só tem uma coisinha a fazer: ME OUVIR. Ouvir com alteridade, ouvir com a compreensão de que a sua visão de mundo não é pura nem universal, mas subjetiva e pessoal, e que você tem que ouvir mulheres, gays, lésbicas, trans, negrxs, e outros, para entendê-los.
Negar a lógica do poder, construir um consentimento verdadeiro é OUVIR SEM LANÇAR SOBRE O OUTRO O SEU OLHAR COMO SE FOSSE ISENTO E UNIVERSAL.
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