Qualquer
semelhança não é mera coincidência.
Somos
ensinadxs desde bem pequenxs que existe uma verdade. Algumas coisas
são verdadeiras e outras são falsas. “Você não deve contar
mentiras, diga sempre a verdade” diz aquela vozinha repressora
encarnada em tantas figuras adultas diferentes que é até difícil
enumerá-las. Nós crescemos num afã de buscar a verdade a todo
instante, quase como se ela fosse um objeto mágico e secreto, o pote
de ouro no final do arco-íris.
Enquanto
somos criança fica bem claro que a verdade não nos pertence, ela é
do mudo dos adultos. Mamãe e papai possuem a verdade, se você não
sabe alguma coisa, pergunte a eles, os adultos sabem. X professorx da
escolinha também possui a verdade, e elx vai compartilhar pequenas
porções de verdade com você no seu longo e árduo caminho de
adestramento para se tornar um bom adulto possuidor de verdade.
O tempo
todo, a verdade paira sobre nossas cabeças, inatingível e
imaterial. Apesar de intocável ela parece estar sempre presente.
Quando eu
entrei nessa graduação eu já não tinha ilusões. Sendo essa a
minha segunda, eu já estava ciente dos egos inchados dxs professorxs
doutorxs grandes possuidorxs da verdade. Mas aqui, num curso de
humanas, era exatamente esse o conceito que seria tema de todo meu
semestre. Logo na primeira semana de aula tive que ouvir a definição
da verdade. “Anota no caderno porque cai na prova, tá.”
Definição
de verdade... Eu não consigo nem pensar nisso sem esboçar um
sorrisinho no canto da boca.
“Verdade
é um conceito absoluto.” Opa... “absoluto?” Ousei perguntar...
Mas eu já sabia a resposta que me seria dada, ela é sempre a mesma,
seja na academia ou fora dela. E o que eu acho mais curioso é que o
exemplo que eu ouço para ilustrar o suposto absolutismo da verdade
também é sempre o mesmo.
“Claro
que a verdade é absoluta. Não pode ser relativa. Se for relativa
vira opinião. Você acha isso, eu acho aquilo e quem está certo? No
relativismo qualquer coisa é justificada. Então podemos dizer que
Hitler estava certo. Era a verdade dele. Não! A verdade é absoluta.
Não tem como ser diferente.”
E aí o
coleguinha na mesa ao lado ri pra mim e brinca baixinho “sua
pós-moderna”...
E eu acho
engraçado o exemplo citando Hitler. Sempre o mesmo! É moda por aí
as pessoas apontarem o dedo e acharem o máximo as produções
hollywoodianas sobre o holocausto. Mas na hora de exercer o fascismo
nosso de cada dia, aí tudo muda. A gente vê os Bolsonaros da vida
aparecendo aí na mídia todo dia, e muita gente concordando com ele.
E a relativista sou eu... aff...
Veja bem,
a verdade não pode ser absoluta, simplesmente porque ela é um
conceito (apesar de ter ganhado status de entidade). Todo conceito é
criado, inventado. Quem definiu o que é verdade? Porque essa
definição foi a escolhida e não outra qualquer? Psiu... segredo...
porque conceitos são criações que tem finalidade política...
oops... contei...
Imagina
só se a sociedade ensinasse às crianças que verdade não existe,
se elas aprendessem que são livres... Oh! Isso seria anarquia!
(rsrs) Como produziríamos adultos capazes de trabalhar resignados
produzindo a tal da mais-valia pro patrão? Como produziríamos
mulheres quietinhas que seguem enchendo suas barrigas de bebês
novinhos em folha, prontos pra receberem seus códigos de barra?
Imagina se as pessoas acreditassem que são livres para viverem suas
vidas da forma que desejassem, que tudo isso é um grande teatro
orquestrado pra encher o bolso de alguns poucos...
Certa
vez, conversando com minha amiga e companheira de blog, ela discorria
sobre a pós-modernidade. Lembro muito bem das suas palavras: “sabe
por que a academia não gosta da pós-modernidade? Porque esse é o
momento histórico onde as supostas minorias estão invadindo a
academia. Negros, mulheres, gays... todo mundo sentando, escrevendo,
publicando e dizendo que aquela verdade ali, que foi proferida por
milênios pelo homem peniano, ocidental, heterossexual, não nos
contempla não... Isso aí que vocês tão falando não tem nada a
ver com a minha realidade, e agora é a nossa vez de falar... Então
sentem aí e me ouçam... E é claro que a academia não vai sentar e
ouvir porra nenhuma! Ninguém quer ouvir preto falar! Ninguém quer
ouvir mulher falar! Ninguém quer ouvir viado falar! Ninguém quer
ouvir sapatona falar! E se você for tudo isso ao mesmo tempo aí que
ninguém quer te ouvir mesmo!”... É Minkah, você tem razão...
Essa
verdade de vocês é absoluta única e exclusivamente porque ela é
ditatorial. Erga sua voz contra ela e serás penalizado. Aliás, nem
precisa tanto, basta questioná-la e já serás penalizado.
Por que
meninas não podem gostar de meninas e meninos de meninos? Por que
meninos não podem usar roupas de meninas e meninas as de meninos?
Aliás, o que são meninas e meninos? Quem disse que ter um pinto ou
uma buceta te define? Por que eu tenho que desejar casar e ter
filhos? Só por que eu tenho um útero? Eu também tenho o apêndice,
eu devia estar fazendo o que com ele? Por que eu preciso comer carne?
Preciso mesmo? Eu vou morrer por acaso se deixar de comer animais?
Por que temos que fazer testes em animais? É impossível produzir
conhecimento médico sem torturar seres sencientes? E a gente precisa
desse conhecimento? Aliás, o que é conhecimento? Ah... é outro
conceito...
Veja,
essas perguntas não são um brain storm aleatório. São perguntas
que tem sido feitas justamente no intuito de mostrar a cagada que é
apostar nesse sistema que tá aí. E o simples fato de pensar nessas
perguntas já é subversivo.
E nessa
hora sempre tem um engraçadinho que vai dizer assim “ah, mas a
gente pode achar que tem a verdade, quando não temos. Então mudamos
a forma de agir e pensar, a cultura é mutável, coisas que já foram
consideradas normais hoje não existem mais, como escravidão. Mas
isso não significa que verdade não exista, apenas que acreditávamos
em algo falso”.
Sabe o
que eu escuto? “Eu estou sentado aqui nessa cadeira dourada há
milênios conduzindo a humanidade lindamente como fantoches bobalhões
me servindo, e agora vem essa galera aí achando que podem me
desbancar? Eu não abro mão do meu conceito, então vou usar aqui de
todo o meu poder de retórica rebuscada pra convencê-los. Vou jogar
aqui um exemplo pra agradá-los... mas claro que todo mundo sabe que
escravidão não acabou coisa nenhuma. Ah, mas se alguém perguntar a
gente lembra logo da Princesa Izabel que fica tudo certo. Mas meu
conceito é MEU! E ninguém tira ele de mim!”
Aí
quando eu digo que isso é religião a maluca sou eu... Será
possível que ninguém nota a semelhança entre essa discussão de
verdade e o pastor esbravejando com a bíblia na mão? Galera,
verdade absoluta é o Deus acadêmico!!! Oiii!!! Aloooouuuu!!!!
Ninguém nunca poderá ter certeza se atingiu a verdade ou não, mas
isso não faz com que ela não exista, nem deixe de ser absoluta. Só
falta dizer “mesmo que você não acredite na verdade, ela acredita
em você”.
De
novo... depois a maluca relativista sou eu... aff...
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ResponderExcluirVou resumir minha opinião numa frase, espero que entendam: " A verdade acadêmica é sempre acompanhada de um diploma de doutorado". cansei de discutir com mestres, vou esperar até ter minha credencias para divulgar minhas "verdades absolutas" aos ventos. "Conhecimento" (este mero conceito) é poder. Bjookkksss
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