Nada mais apropriado, eu diria. Afinal, como bem descreveu minha grande amiga e companheira de blog, esse é um espaço sentimental. A razão é aquele animal mitológico que todos nós acreditamos fervorosamente, mas a verdade é que ele não existe nos livros de taxonomia.
Os últimos meses da minha vida foram povoados por uma grande paixão arrebatadora. Dessas de adolescente, ou que eu, pelo menos, não sentia desde esses tempos. Talvez eu estivesse meio sedenta por adrenalina, não sei ao certo. Mas também não estou aqui para “racionalizar” nada, na verdade estou deixando esse texto fluir, como também não fazia há muitos anos. Estou permitindo que as palavras escorreguem por entre meus dedos, como finos grãos de areia da praia, vindos diretamente do infinito horizonte, e que voam mais uma vez para não sei onde.
Talvez isso tudo soe um pouco esquizofrênico aos olhos bem treinados daqueles que estão enquadrados. Mas eu já não quero mais ter pontas. Elas atrapalham os sentidos. Para ser livre para sentir temos que ser assim mesmo. Malucos! Doidos! Esquecer a vergonha e o pudor! Deixar fluir... Deixar voar... Como o vento forte que bate de repente.
Essa paixão surgiu num momento único, como todas surgem. Um momento de alguma carência, mas não muita. Acho que eu sempre me encontro num momento de alguma carência. O momento era único, e era belo. Era um momento que só mais tarde eu descobriria ser feito de coco coberto de chocolate. Era sim extremamente saboroso! Fez minha língua dançar! E eu estava ali, saboreando esse sabor que eu ainda não descobrira de que era, quando ele apareceu.
Apareceu de noite. Não lembro qual noite nem de maiores detalhes sobre aquela noite. Só me lembro que era noite. Apareceu totalmente inesperadamente, falando de coisas mais inesperadas ainda. Ali eu ainda não sabia, mas começava a nascer esse sentimento, essa paixão.
A cada nova aproximação, um novo bater do coração. Não, a rima não foi proposital. Como disse, as palavras estão apenas fluindo, escorrendo, sem olhar para traz. Sem parar para alterações ou pequenas correções. Apenas deixando sair, deixando brotar. Ninguém controla o curso de um rio... Ou pelo menos não deveria controlar. Quando insistimos em brincar de Deus, sempre acabamos destruindo tudo o que há de mais belo. Então pra que controlar o curso do rio? Deixe-o fluir!
E a paixão cresce na velocidade dos bambus. As minhas pelo menos são assim. Ainda mais na conjuntura daquele momento. Eu estava ávida por aventura, queria sentir o frio na barriga, queria sentir o suor escorrer e não saber o que fazer, queria sentir a cabeça girar e a voz desaparecer. Acho que fiquei muito tempo presa numa dimensão paralela, num relacionamento que não me forneceu essa gostosa sensação. E eu fui me deixando levar, me permitindo sentir tudo isso, todo esse sentimento que parece aquela sensação de garganta super seca num dia quente, e só passa com um copo de água gelada.
E a minha garganta estava seca! Seca como um deserto árido. Secou debaixo de um sol forte, mas sem queimar muito. Eu apenas caminhando esperando ansiosamente o momento de beber o tão esperado copo de água. E de repente, no meio disso tudo, lá estava ele! Tão gelado que as gotinhas de água se acumularam em volta do vidro, fazendo suar o copo. Eu corri! Corri até ele com tanta avidez que nem me lembro direito do que aconteceu.
Talvez eu tenha derrubado o copo. Por alguns instantes achei ter derrubado toda água no chão.
Talvez eu tenha bebido rápido demais. Por alguns instantes achei ter engasgado.
Talvez ele tenha sido apenas uma miragem do deserto. Por alguns instantes achei tê-lo visto desaparecer.
Mas a verdade é que foi tudo isso ao mesmo tempo. Eu derrubei a água no chão, eu engasguei com a que restou no copo, e as últimas gotas desapareceram diante dos meus olhos.
Quando essas coisas acontecem, o nosso cérebro, treinado por todos os anos educacionais nessa sociedade que tanto preza pela razão, tende a querer apontar culpados. Quem? Quem seria a vil criatura que me fez apaixonar? Foi o objeto da paixão? Tão perfeito que é, se mostrar assim, o que querias de mim? Foi Deus? Por que colocaste diante dos meus olhos essa miragem no deserto? Fui eu? Estúpida, se deixou levar sem pensar...
Opa! Esse foi o gatilho...
Sim... Me deixei levar sem pensar... E qual foi o mal? Foi mal?
Não! E foi então que eu vi... E entendi... E descobri que o momento era de coco coberto com chocolate. E ele era muito saboroso! Fez minha língua dançar! Fez meu corpo vibrar! Fez minha mente girar! Me causou todo o frisson que eu almejava! Mas durou o tempo de degustar uma barra de chocolate. Um momento!
Algumas barras de chocolate são únicas. Mesmo que você compre outra, ela não tem assim o mesmo sabor. E outras só existem em lugares distantes. Como se você chegasse num lugar desconhecido, comprasse um chocolate local e o saboreasse intensamente. Mas aí você volta pra casa e não pode mais adquirir novas barras daquele chocolate. Mas isso não o faz arrepender-se de ter saboreado aquele único, pelo contrário. Isso faz daquele chocolate ainda mais especial, porque ele foi único, foi intenso, e foi gostoso!!
Um momento feito de coco com chocolate! Uma paixão assim com esse sabor. Sem dor. Sem sofrimento. Não mais. Só o sorriso no rosto, desses que ficam enquanto a gente ainda sente o gostinho na boca, que aos poucos se esvai...
Vídeo da Semana:
http://www.youtube.com/watch?v=8LA_PUhpnKc
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