domingo, 18 de março de 2012

Reflexões buscando um pouco mais de estratégia...

Eu venho, nesses meus caminhos de militância, buscando criar estrategias que me pareçam além de adequadas, eficazes para chegar onde eu desejo: um mundo livre de opressões! Um mundo livre de TODOS os tipos, formas e qualidades de opressões.

Bom, todxs sabem que a fórmula básica para que uma opressão ocorra é aquela em que tem alguém oprimindo, e tirando vantagem dessa opressão (seja qual for o tipo de vantagem tirado), e alguém que é oprimido e, portanto prejudicado (seja qual for o tipo de prejuízo) ao sofrer essa opressão. Ok. Aí começam alguns problemas. Colocar todas as formas de opressão assim num mesmo saco é dizer que elas são iguais e equivalentes entre si, o que, ao meu ver, não é verdade. Eu consigo entender que elas tem todas a mesma estrutura tipológica e sejam “validadas” pelos mesmos princípios culturais, mas são bastante diferentes em suas subjetividades, e colocá-las num mesmo saco seria ignorar essas subjetividades.

Sempre me incomodou um pouco (e de uns tempos pra cá tem me incomodado muito) o fato dos movimentos sociais como um todo trabalharem basicamente voltados para xs oprimidxs, dialogando quase que exclusivamente com xs oprimidxs. Eles entoam discursos de união, de fortalecimento, de entendimento da própria opressão. Não que eu considere isso ruim ou inútil. De forma alguma, acho inclusive muito importante! Principalmente porque grandes partes das opressões que vemos e vivemos hoje em dia, são veladas. O capitalismo com sua retórica do marketing andou se apropriando e desvirtuando a porra toda. Instrumentos de tortura e opressão são vendidos em todas as esquinas e as pessoas compram e aplicam em si mesmas, achando que tudo aquilo é lindo e maravilhoso. Então é CLARO, ÓBVIO E NOTÓRIO que é importante o trabalho de CONSCIENTIZAÇÃO dxs oprimidxs frente a essa condição.

No entanto, algo que eu observo é que a reação imediata de qualquer pessoa que sofre uma opressão e a entende como tal é a de oprimir o primeiro ser “mais fraco” que surgir a sua frente. E aí reside o ponto exato onde eu queria chegar.

Em algum momento, é preciso exterminar a cultura de opressão como um todo. E isso vai muito além de simplesmente convencer x oprimidx a lutar contra sua opressão. Isso passa também em convencer x opressor de sua prática opressiva e do caráter vil, monstruoso (não encontro um adjetivo decente!!) de tal prática. E quando eu digo “convencer x opressor” eu também incluo xs oprimidxs que almejam ser opressorxs.

Se não formos, em momento nenhum, capazes de acabar com essa cultura de opressão como um todo, me parece impossível um mundo livre de fato de tais práticas. Afinal, terá sempre alguém almejando subir novamente ao trono.

Um exemplo bom pra ilustrar creio que seja referente ao especismo. É simplesmente impossível convencer os animais não-humanos de sua exploração. Ninguém vai invadir uma fazenda, chegar pra uma vaquinha que lá é explorada e dizer “ô Mimosa, tu tá sendo explorada... acho melhor você reagir... junta a galera e faz uma greve aí, parem de dar leite... sei lá”. Tanto que um jargão comum entre os que defendem direitos dos animais é “ser a voz daqueles que não tem voz”. O nosso papel é justamente fazer as pessoas entenderem o caráter opressor delas em relação aos não-humanos, e a libertação deles depende única e exclusivamente das pessoas se entenderem enquanto opressores!

E é esse conceito que eu desejo ardentemente expandir! A reflexão diária não pode parar no “aqui eu sou oprimidx, parem de me oprimir!”. Ela tem que ir além, ela tem que passar pelo questionamento “será que eu também não estou explorando e oprimindo?”.

E aí, todx vegetarianx que se preza já ouvir aquela frase “que coisa chata... se você não quer comer carne tudo bem, mas respeita quem quer”. E quem vai respeitar o animal que jaz morto no seu prato? Quando ouço isso tenho vontade de responder “se você não gosta de estuprar tudo bem, mas deixa quem gosta estuprar em paz!”.

É muito fácil se rebelar contra aquela opressão que a gente sente na pele, afinal ela tá ali te atacando diariamente, te machucando e te incomodando. O difícil é abrir mão dos privilégios e prazeres que ser opressor traz. Essa reflexão é difícil tanto sob esse aspecto, de abrir não de privilégios e prazeres quanto pelo aspecto de entender a subjetividade do outro.

Um dia deses, numa conversa com minha companheira de blog, ela falou algo relacionando a luta pelos direitos animais e feminismos que me chamou atenção. Ela disse justamente o que parece óbvio, os animais não respondem. Nós, humanos, pensamos a opressão deles, a entendemos enquanto tal e criamos estratégias para libertá-los. Mas tudo isso obviamente é criação nossa. Talvez eles achassem que deveria ser tomado um caminho diferente. Infelizmente isso nós nunca saberemos de fato. Já no caso das mulheres não, elas respondem. Então quando os homens dizem que entendem a opressão feminina e buscam criar mecanismos para supostamente libertá-las, pode alguma descabelada gritar lá no meio da multidão “ô cara, isso aí não me contempla não!”...

Pra se entender como opressor de verdade, é preciso se colocar no lugar do outro de forma muito mais intensa do que sonha a nossa vã filosofia. É preciso entrar na subjetividade do outro!

Cada indivíduo é único, teve vivências e experiências que são únicas e, portanto cada visão de mundo é única, é subjetiva e é parcial. Pra entender como eu me sinto oprimida pelo machismo, é preciso entrar na minha subjetividade, é preciso conhecer minhas história de vida, minhas vivências e experiências. A forma como eu me sinto, claro, encontra eco em muitas outras formas de sentir. Mas ela é única.

O que eu gostaria de encontrar mais pelo mundo é justamente esse tipo de exercício de reflexão. Quando alguém lhe aponta o dedo na cara e diz que essa sua prática é opressiva, ao invés de entrar na defensiva e assumir que tudo o que vem daquele ser que lhe aponta o dedo é lixo, pare um pouco, escute... escute com atenção! Saia da sua zona de conforto. Aprenda a sentir o sentimento que existe por traz daquele dedo e daquelas palavras.

Eu tô cansada de revoluções feitas com gritos e armas. Eu já fiquei rouca e já cansei de ser engolida por pessoas trocando tiros a esmo pra ocupar o trono que ficou vazio. Eu quero quebrar aquela cadeira dourada de uma vez por todas, e eu quero a ajuda de todxs pra fazer isso.

Oprimir é ruim simplesmente porque ninguém gosta de se sentir oprimido, não importa a opressão que seja, ela é sempre ruim. Sinceramente, não acho que seja assim tão difícil de entender isso...

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