domingo, 28 de abril de 2013

Desabafo


“Este poder que a ciência ou a teoria tem de atuar materialmente sobre nossos corpos e mentes não tem nada de abstrato, ainda que o discurso que produzam o seja. É uma das formas de dominação, sua verdadeira expressão. Diria mais, um de seus exercícios. Todos os oprimidos conhecem-no e tiveram que lidar com esse poder que diz: você não tem direito de falar porque seu discurso não é científico ou teórico, você se equivoca no nível de análise, confunde discurso e realidade, possui um discurso ingênuo, desconhece essa ou aquela ciência.” (Monique Wittig)

Esse pensamento platônico exposto sempre como verdade absoluta já me soa tão cansado e ultrapassado que confesso ter até uma certa preguiça em explicar. Em certos momento, minha indignação é tanta que tenho vontade simplesmente de assumir que todo o resto do mundo já fez essas leituras básicas sobre as supostas minorias. Aí me lembro q eu vivo na minha alegre e colorida bolha.


Ali logo adiante, impera o saber da verdade absoluta, da razão ganhadora de todos os argumentos, da objetividade detentora de toda sabedoria. Ali logo adiante naquele olimpo fictício que nem um singelo tablado possui.


Eu abri com essa maravilhosa frase da Wittig porque nada, repito: nada expressa melhor meu atual estado físico, mental, psicológico e psicodélico que essa frase! Esses pseudo-deuses trabalham ativamente todos os dias pra silenciar pessoas como eu, domesticar pessoas como eu. E pra q eu passe a possuir o simples direito de fala, tenho q me submeter ao jogo sujo dele, e adquirir os títulos inventados por ele, que legitimem uma fala que desmantela o poder deles.


E lá vou eu, todos os dias, jogar o jogo dele, como uma Pollyanna vendida, fingindo que gosto de jogo do contente, esperando o momento em q minha paciência não mais permitirá. E esse momento parece ter se aproximado hoje!


Já não me interessa quem foi o professor q puxou esse gatilho, já não me interessa o q falaram de mim quando eu virei as costas, já não me importa o barulho q eu gerei, a fofoca q se criou ou a oportunidade q falsamente se abriu. Só importa q eu explodi!!


Explodi porque já não podia mais suportar o platonismo velado desse discurso acadêmico que nem tenta disfarçar. Porque já não posso mais suportar essa visão de mundo anacrônica do trono fálico dourado. Explodi porque já não posso mais suportar viver na sombra, invisibilizada, fingindo ser domesticada quando jamais me permitirei viver dessa forma.


Não importa se minha voz se ergue sozinha, se ela ecoa no microfone com ruídos de desprezo ao fundo. Não importa se eu preciso citar Wittig e Butler pra legitimar o meu “ataque histérico”. Nada disso importa porque eu não posso, não quero e não me proponho a ficar calada. Eu sei porque vim pra cá, eu sei onde pretendo chegar.


Depois de todo esse baphão, retorno a casa, tarde, louca, chapada, sozinha... escrevo pra organizar, pra extravasar. Eu ainda tenho muito o que me fuder... mas... o que é um peido pra quem tá cagado não é mesmo... se é pra morrer na guerra, que seja levando o maior numero de inimigos possíveis...


Agora dá licença, q eu vou chorar na cama... q é lugar quente...

Um comentário:

  1. Respirei ao terminar de ler, respirei profundamente porque sinto tanto e muito como você. O pior é que se você desiste, você é a fraca, você é a errada.
    Se não desiste é só mais um consumidor das drogas legais, redutores de ansiedade e antidepressivos.
    Parece que estamos sempre fadadas ao descontentamento.

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