quarta-feira, 22 de junho de 2011

O BELO É BONITO E O FEIO É FEIOSO

Porque alguns pleonasmos são de carne e osso!


A ditadura da beleza chega cedo nas nossas vidas. Ela nos apanha peladxs e nos veste com suas roupas enquadradas e enformadas. Ali já não há espaço para formatações, o sistema já veio programado de fábrica, e pra quebrar esse código só sendo um hacker muito sagaz.

Ela nos bombardeia com seus corpos supostamente perfeitos, nos fala com palavras doces e felpudas sobre saúde e bem-estar. Nos faz acreditar que só seremos capaz de amar e sermos amadxs se nossos corpos apresentarem a silhueta que jaz do outro lado da TV. Ela cala nossas bocas com chocolate, açúcar pra drogar o corpo e a mente, açúcar pra alimentar as banhas... quanta ironia...

É assim que ela trabalha. Se bonito fosse ser autentico o que ela ganharia com isso? Se bonito fosse maioria o que ela ganharia com isso? É preciso criar uma fôrma na qual a maioria nunca vá caber, só assim ela pode criar mil e um artifícios pra fazer as banhas acreditarem que podem jazer confortavelmente lá dentro. Mas a verdade é que somente a tentativa faz lucrar, cruzar a linha de chegada nunca foi o objetivo. O objetivo é cruel, é te fazer morrer correndo, esbaforidx, mas ela vai te jogar muitos copos d'água e seguir mentindo que a linha de chegada está logo ali depois da curva...

Tenho pena dos que de fato morrem correndo. Não dá pra ter outra coisa. Pequenxs animais enjauladxs, que estendem o braço voluntariamente para receber a algema. “Dancem, macacos, dancem”.

Alguns poucos, um dia se irritam ao perceberem que após a curva só tem outra curva. Então em dado momento a gente pára, joga o copo d'água de volta ao nosso algoz (vai saber que tipo de veneno misturaram ali), vai pra casa tomar um banho e se ver livre de uma vez por toda dessa necessidade desnecessária de suar até morrer. Deixe que o ralo leve as últimas toxinas do fermento que te fazia engordar. Agora só restou o corpo nu, em pelo, despido da imagem disforme do olhar corporativista.

O espelho, nesse momento, passa a refletir a utopia que antes estava escondida entre as banhas que insistem em crescer e, muitas vezes acabava arrancada tiranicamente junto com os pelos. Aquela superfície lisa reflete o corpo perfeito, o corpo que dança e se mexe, o corpo que cresce e diminui, o corpo que já não se mutila, que se olha de todos os ângulos pela primeira vez! Os olhos autofágicos que passam todos os cantinhos, todas as ondinhas, todos os furinhos, todas as marquinhas...

E nessa hora o coração se aquece.

O corpo nota uma pequena barra do antigo chocolate jogado sobre a mesa. Sorri. Sorri na certeza de que já não precisa mais dele, jamais voltará a confundir açúcar com afeto. A mão que lhe estendia o açúcar travestido de afeto sempre foi a mão da tirania, a mesma que lhe estendia o copo d'água... O sorriso transforma-se numa enorme gargalhada.

Afeto? Afeto é esse calor que cresce no peito. Afeto é esse corpo solitariamente acompanhado. Afeto vem da mão que toca o corpo e a utopia que nele habita. Porque agora um já não sobrevive sem o outro.

A mão sabe aonde ir, sabe que é só disso que o corpo precisa. E ele continua ali, encarando o espelho, o sorriso e a mão. Essa corre e saboreia por inteiro a utopia! E o calor aumenta e o gozo chega! E o corpo cai feliz no chão...

Lá fora o barulho dos passos frenéticos dos que continuam na corrida passam apressados... O corpo sorri novamente... E adormece, cansadx...

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