(Dorothy Lavigne)
"Track down this monster!". Bem, quem já leu alguns dos meu artigos,já deve ter reparado que costumo iniciar com alguma frase de efeito e este caso não será diferente. Uma das autoras do blog Coletivo Caju me convidou para escrever sobre um tema que admito não dominar (e quem o domina?). Pois bem, vou apresentar então, minhas experiências pessoais e meus apontamentos sob uma ótica subjetiva e muito íntima- um desabafo, mesmo- no mesmo tom com que têm se apresentado outros artigos deste blog.
Antes de tudo, julgo impossível falar sobre o tema que me foi confiado, a "transexualidade" sobre o prisma da Teoria Queer ou Pós-Identitária, uma vez que um conceito anula automaticamente o outro. É impossível a existência de um fenômeno transexual uma vez que a idéia de "sexo", naõ se reduz a corporalidade, os corpos não são realidades em si mesmos, mas o discurso sobre eles, uma apropriação sócio-cultural. Ou seja não se pode falar em homens e em mulheres, mas sim em pênis e vaginas. E se o sexo não existe como fato concreto, como imaginar a transformação de masculino para feminino e vice-versa? Acho deveras interessante imaginar tal possibilidade apenas a restringindo ao espaço médico das cirurgias e das body-modifications, mas não é possível entendê-lo muito além disto. Por isso que fico indignad@ quando, por exemplo, a ex-BBB Ariadna, vai a publico afirmar que não gostaria de ser chamada de "transexual", pois é "mulher". Ambas as definições, além de arbitrárias e em si falsas (falamos de mulheres sem útero que não menstruam, por exemplo), não permitem por razões políticas qualquer tipo de elasticidade ou revisões que possam colocar em duvida a ordem vigente. Ou seja, discordando das feministas, "gênero" como conceito não é uma ferramenta útil de análise histórica, muito menos de militância, mas pelo contrário, o mais poderoso motor de engenharia social.
Munidos desta conceituação e delimitado o espaço da minha fala, vamos ao meu desabafo:
A alguns meses atrás, escrevi para o blog Além da Parada, do qual sou uma das fundadoras, um texto sobre minha participação no ENUDS -Encontro Nacional Universitário da Diversidade Sexual- texto no qual abordava um episódio "pitoresco" ocorrido com minha pessoa, quando, ao ver um grupo de nudistas no evento e querendo me unir a eles, não tive o desprendimento necessário e cai no choro. Muitas pessoas dizem não entender meu medo e inúmeras vezes me indagaram sobre isto. Pois bem, como já afirmei em várias ocasiões, o corpo da "transex" não é intelegível, ou seja, não é algo passível de ser interpretado através do prisma do "gênero" e muito menos quando este corpo, por motivos políticos não busca se enquadrar numa das "caixinhas", numa norma específica. É muito fácil aplaudir quem tenta subverter uma norma tão rígida. O difícil é sentir na pele o peso de uma luta, a qual muitas vezes nos obrigamos a travar para ter o direito ao acesso a satisfação plena através de nossos corpos.
Para aqueles que acham que a peleja é simples e se reduz a fincar um bandeira no solo do "terceiro sexo", retirando de nossas mentes os elementos atribuídos a masculinidade e a feminilidade, o que nos resta? Aquele que, ao meu ver, seria o ápice da subversão, o "intersexo" (antigamente chamado hermafrodita) também está preso a tal dicotomia. Não podendo simplesmente esconder sua existência, viram-se os olhares curiosos e academicistas ( e o ENUDS estava cheio deles, infelizmente) para o "quanto por cento" daquele ser se enquadra na masculinidade e feminilidade, inscrevendo-o. forçosamente, no conceito de "humanidade". Enfim, pessoas que não se enquadram no masculino e feminino no geral não passam de retalhos de gênero, verdadeiros Frankenstein's criados a partir de pedaços de homens e mulheres.
Aliás, por falar em monstros:alguém já viu algum que não se enquadrasse em tal norma, por mais estranho e bizarro que fosse? Não me lembro. Até as horripilantes criaturas assassinas da série Alien, por mais desumanas que pareçam têm sexo e baseados neste, toda uma estrutura social. Recentemente participei de uma discussão sobre Spore, videogame que adoro e cujo objetivo é criar e administrar uma civilização de criaturas alienígenas. Dentro de várias criticas, uma me chamou atenção: parece que o inventor do jogo "se esquecera" de permitir que os monstrinhos tivessem sexo, fossem machos e fêmeas. Ou seja, tal noção cosmológica está tão alicerçada no nosso sub-consciente que não ousamos simplesmente imaginar algo que a subverta. O único gênio que talvez o tenha feito, e isto não é especificado, foi Stanley Kubrick, que usou a estratégia da sugestão- os alienígenas do filme 2001, não têm sexo, simplesmente por que não são vistos em cena.
Enfim, as vezes tenho vontade de pendurar as chuteiras. As vezes é valida a máxima cantada pela Elis Regina: "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais"
Não me estenderei mais do que isso. Sintam-se livre para comentar e dar suas opiniões e crítica Gostaria, no próximo texto, se me for permitido, falar sobre um tema que tem me fascinado e me envolvido muito profundamente; o "amor queer". Como uma pessoa que não se enquadra nas regras socialmente aceitas de sexo e gênero se relaciona afetivamente e eróticamente com outras, estejam elas dentro ou fora das normas consagradas? Qual o resultado, os ganhos e as perdas subjetivas e psíquicas deste tipo de fato? Gostaria de expor minhas experiências pessoais e aquilo que tenho aprendido com elas no dia-a-dia.
Olá, obrigada por divulgarem meu artigo. Um adendo que acho interessante: grande parte da minha fala foi baseada nesse artigo aqui-
ResponderExcluirhttp://disnormalidade.blogspot.com/2011/01/cultura-dos-monstros-sete-teses-de.html.