Contra a ditadura dos acadêmicos que sentam em seus troninhos de saber, cagando conceitos tirânicos a ser introduzidos na sociedade sem abertura para o diálogo.
Tomo 1, em nome dos palavrões execrados.
Para onde quer que olhemos, as bandejas artísticas oferecem-nos MERDA para comer. É tanta a variedade de texturas e fedores que se torna quase possível esquecer-mo-nos de que fezes não são comestíveis. Ou estamos tão absortos nela, ou estão nossos narizes tão emplumados nas nuvens do saber, que o cheiro ou não nos toca, ou já nos é comum. Mas basta agitar debilmente as mãos para sair desse naufrágio e perceber que, na superfície do esgoto, paira um cheiro dantesco.
Disse um camarada: nossa sociedade que se desloca em movimento retilíneo uniformemente acelerado para a desgraça necessita de um entretenimento tão fabril quanto o trabalho, para que o operário possa esquecer-se do que é, sem deixar de sê-lo. O mundo do hiper-estímulo de cartazes, propagandas e centenas de rostos desconhecidos por dia cria o entretenimento da montanha russa, do filme de ação, de ficções baratas e repetitivas vazias de significado.
A indústria cultural, essa célula mãe com enormes pseudópodes, fagocita a cultura popular e depois a defeca sobre nós sob a forma de embalagens que já mal mudam o rótulo – a repetitividade do rótulo pode ser conferida já nos anos 90, quando do fenômeno das boy bands padronizadas. Pelo menos é sincera: oferece-nos o lixo na bandeja, advertindo de antemão “olha, Lady Gaga é lixo, compra quem quer”. Há muito tempo a tal indústria já mandou para o caralho qualquer compromisso com verdade ou autenticidade. Eu tenho muita pena do caralho, nessas horas.
O entretenimento está para o trabalho assim como a arte parece estar para o consumo. Se este é um ato vazio, cuja existência apenas se presta a delinear as margens das castas sociais, também o fazer artístico está vazio e apenas se presta a definir quem é artista e quem não é. Sua metalinguagem teórica pode confundir os desavisados em suas circunvoluções, mas para quem é do babado, que meteu o nariz em Deleuze e Foucault, não passam de fragmentos de conceitos que, retirados de seus antigos hábitats, esvaziam-se de seu cunho político e intelectual e servem apenas para masturbação elitista, para o gozo de gente cuja diversão maior parece estar em esfregar seus diplomas na buceta ou enfiá-los no cu.
Na corrida para ver quem chegava primeiro no museu e se apropriava da “arte”, venceram eles, turbinados pelo poder dos diplomas em uma sociedade tecnocrata. Pobrezinho de Duchamp, morreu bem: jamais soube que a piada do mictório só fez tornar o museu um feudo menos justo. Agora, cada “artista” quer chegar no pódio e colocar no alto, bem acima da sociedade, um piniquinho cagado. Um piniquinho sagrado que não deixa qualquer outra coisa tornar-se arte, se não fizer parte da patota dos pós-doutores.
De quem é o museu?
O museu é do povo como a praça é do carrinho de picolé da Kibom! À moda de tudo quanto foi público, o museu virou o play dos fedelhos da Zona Sul que pagam de comunistas do alto de suas havaianas. Comemoremos mais esta privatização, mas com ar bem blasé – afinal, estamos cagando.
Quanto ao povo, é problema do ativista resolver. Nós, no Zeppelin das artes, sobrevoamos o mundo intocados, inflados por nossos flatos!
Tomo 2, onde a briga se torna pessoal. Dedicado a quem execra palavrões.
Notas de um diário.
... a Arte tornou-se um problema. Já há algum tempo, desde o início da faculdade, tenho visto quão injusta é a coroação que celebra uma obra como Arte. Aliás, tendo em vista que toda coroação é, por definição, furtar poder a muitos e concentrá-lo nas mãos de poucos, definir qualquer coisa como arte é simultaneamente definir algo mais como não-arte. Não só isso, os critérios para essa definição (arte ou não-arte) continuam concentrados nas mãos e mentes de homens, sobretudo homens, empoderados. Não raro, conhecer esses critérios, ser capaz de discernir e apreciar a “Arte”, torna-se um distintivo de classe: não necessariamente social, mas uma casta pseudo-intelectual que se auto-eleva perante as demais.
O discurso, em geral, é de que tais nobilíssimas pessoas possuem um instinto artístico capaz de farejar nas obras sua Aura Mística, sua artisticidade, quando na verdade ocupam-se de tecer e tecer as regras de um jogo que, desde o princípio, é projetado para garantir sua própria vitória.
(...)
Pensei: agora tenho que avisar os outros. Minha cabeça virou um tumulto de idéias, frases, figuras, estratégias. Era preciso ampliar o conceito de roubo, apropriar-se de TUDO: dos muros, das ruas, das terras confinadas em terrenos baldios, da comida desprezada no fim da feira, da música, da informação e da ARTE. Duchamp levou o urinol para o museu: agora é hora de quebrá-lo, de demolir essa Central de Opinião que continua a expedir História, Arte, Cultura.
LUGAR DE ARTE É NA RUA: andar sorrindo, pegar uma maçã, assoviar bem alto, desenhar, escrever, promover um vandalismo lúdico, lúcido, sem perder de vista nossas causas e objetivos.
(...)
O artista, devido a seu saber técnico e seu envolvimento subjetivo com a arte, tem de fato uma perspectiva sobre o mundo. O médico, devido a seu saber técnico e seu envolvimento subjetivo com a arte, tem de fato uma perspectiva sobre o mundo.
O biólogo, devido a seu saber técnico e seu envolvimento subjetivo com a arte, tem de fato uma perspectiva sobre o mundo. O pedreiro, devido a seu saber técnico e seu envolvimento subjetivo com a arte, tem de fato uma perspectiva sobre o mundo.
Então, o que tem dado ao artista permissão de ser imoral, afastando-se dos compromissos éticos implicados na vida social, é essa crença religiosa, essa crença arcaica, essa CRENÇA de que a inspiração é entidade mística incorpórea e aconjuntural descendente de outro universo que não este. Querendo-se intocada pelo cotidiano, pelo sexismo, pelo especismo e pelas ideologias do autor, quer-se uma expressão legítima, ou pior, quer-se ela própria a legitimidade.
Mas a arte é histórica e conjuntural. Urge que apresse seus passos lúdicos para entender o novo mundo ao qual insiste em não se dirigir!
Video da Semana:
Bom, eu já tinha comentado aqui, mas pelo jeito o Blogger "faiou" rs
ResponderExcluiriquei feliz em ver que alguem compartilha com meu ponto-de-vista sobre arte e cultura POP. No mais, fiquei tão excitada lendo este manifesto que até me desanimei de terminar meu Manifesto dos Fudidos.
genial, parabéns!