domingo, 10 de abril de 2011

Doce bizarrice banal


O dia ontem começou com uma notícia, lá pelas tantas veio um filme, e terminou com uma conversa. Estranho como a sequencia de fatos foi me fazendo pensar e analisar certas coisas que, na verdade, eu venho já há algum tempo analisando e refletindo sobre.

Tudo poderia ser totalmente banal se não fosse considerado bizarro. O filme pareceria banal, vidas banais, sonhos banais, pessoas banais, personalidades banais...  A noticia pareceria banal, vidas banais, sonhos banais, pessoas banais, personalidades banais... A conversa pareceria banal... O que se esconde por detrás dessa bizarra banalidade?

Nós escolhemos enxergar o mundo através da íris da bizarrice e não da banalidade. Transformamos tudo em notícia, vendemos banalidade a preço de bizarrice.

Era a história de um casal. Era a história de algumas crianças. Era a história de ex amantes. Nada disso importa. É sempre o mesmo enredo mascarado. Mudamos os personagens, colorimos o cenário... Como diria Cazuza, “a versão nova de uma velha história”.

Eu fiquei ali observando a banda passar com uma sobrancelha em pé, tentando entender os fatos. Foi uma sequencia realmente interessante, era quase como se alguém quisesse me passar algum tipo de mensagem. Se eu fosse mais esotérica ou supersticiosa talvez tivesse ficado levemente paranoica. Mas não foi o caso.

A sequencia dos fatos me levou apenas a mais um looping nessa montanha russa de banalidades. Porque a verdade é que eu já estou ficando de saco muito cheio de chegar as mesmas conclusões over and over again.

Conclusão 1: O mundo é machista!
Conclusão 2: O mundo é consumista... O que inclui muito de perto ser machista... Então o mundo é machista de novo!
Conclusão 3: A mídia é o principal meio de coerção social, mantendo as pessoas roboticamente acomodadas naquele velho status quo. E como o paradigma vigente é machista... O mundo é machista mais uma vez!
Conclusão 4: A propaganda é a principal ferramenta de conservação de consumo. E é aí que a gente caí no vórtice sem fim de machismo...

Eu começo a me sentir repetitiva. Às vezes acho que estou ficando louca, vendo coisas onde não existem. Aí a gente pára, analisa, reflete e volta sempre pro vórtice de conclusões. E quando a gente começa a fazer esse tipo de análise, questionar a sociedade em que vivemos, o estilo de vida que levamos, os modelos, paradigmas e sistemas vigentes, a gente começa a ficar extremamente indignado com tudo. Indignado e impotente.

E eu uso as palavras assim mesmo, no masculino, porque é assim que me sinto. Como um machão brocha. Possuo todo o equipamento necessário mas ele simplesmente não funciona. E eu fico me perguntando porque ele não funciona? Será que adiantaria tomar uma pílula? Hum... Ou será que a pílula me traria a falsa sensação de ereção? Durável por quanto tempo eu for capaz de pagar por ela... Talvez eu devesse buscar tratamento psicológico. Enfiar fundo o dedo na ferida, rever traumas e inseguranças e torcer para que algumas delas tenha algo a ver com a minha impotência.

Nessa hora, lutar pelos seus sonhos pode parecer uma ideia meio infantil. Como você quer conciliar filhos, carreira e sonhos? Depois de muitas brigas e caras no chão, o machão decide que foi tudo apenas um sonho. Agora é hora de voltar pra vida real, ser racional.

É... Pois é... Só que eu também não sou racional. Eu também não queria desistir dos sonhos. Lá pelas tantas, já durante o filme, me dei conta que o personagem mais sensato era o maluco. E essa é uma máxima para vida. A estranha no ninho sou EU! Eu sou a maluca no meio de pessoas que se dizem sãs...

E por fim veio a conversa, que remetia a noticia que tinha iniciado tudo. Ele falava do maluco... É, muitos o tem taxado assim. E eu fiquei com aquela frase (que possivelmente é de algum pensador famoso que eu não recordo, mas poderia perguntar ao google apenas para arrotar um conhecimento que eu não tenho) que diz que não é saudável ser ajustado a uma sociedade profundamente doente.

Era um presságio?

Talvez eu também seja maluca. Me questiono diariamente onde pretendo chegar com tudo isso. Esse é o melhor caminho? Ou você está desistindo do sonho se escondendo atrás de desculpas? Foi uma das frases do filme “nós desistimos de tudo quando eu engravidei... Então tivemos outro filho somente para provar que o primeiro não tinha sido um erro”. Foi apenas um sonho? “Você amarelou? Não quer mais ser feliz? Tem medo de seguir em frente porque a única forma que você conhece de demonstrar sua masculinidade é fazendo bebês?”. Vamos fazer bebês, assim o mundo pode ver que o meu pinto funciona, mesmo que ele já não funcione mais.

Se você for um sociopata eles irão rezar para que Deus te perdoe, alguns vão querer te matar, o que nos remete novamente a temática “Deus”. Se você for simplesmente louco e socialmente inadequado, eles vão te trancafiar em algum lugar e te drogar. Se você levar uma vidinha aparentemente normal, mas sem conseguir desassociar esses fatos, você será solitário... Muito solitário. O que, eventualmente, pode desencadear possíveis “problemas mentais”. Mas se você escolher a fácil e bonita opção de permanecer infeliz sem compreender por que, aí você será abraçado e recolhido de braços abertos: compre, compre, compre, Botini!

Então é isso... Vamos todos ouvir o que o casal mais chato do Brasil tem a nos dizer as 20h! Vamos engolir suas porras e engordar com elas! Vamos encher nossas barrigas com mais bebês que já nascerão chorando e aprendendo a se frustar! Vamos fingir que dinheiro resolve todos os nossos problemas! Vamos negligenciar nossos filhos para produzir dinheiro porque é disso que criança gosta: money! Vamos ficar chocados quando uma dessas crianças crescer e se revoltar! Vamos achar que ela é uma pobre coitada, que tinha algum tipo de problema mental, que sofreu muito bullying ou gostava de Marilyn Manson! Vamos bater palma pro casal que nos ensinou a fazer tudo isso! Depois a gente pode dormir tranquilo porque amanha tem mais porra pra comprar!!!

Que bom que eu ainda tenho um dinheirinho na poupança... Assim posso comprar bastante porra pra mim e pra minha família, que eu amo tanto!!!

Video da semana:

2 comentários:

  1. Pensando por este lado, seriamos loucos tentando salvar as pessoas das correntes de sua sanidade. Isto realmente apavora. Não posso deixar de mencionar aqui a experiência do célebre Dr. Bacamarte: os "sãos" são os verdadeiros "loucos".

    No fim de que adianta pensar: os vermes não terão nenhum preconceito.

    Bjookskksssss

    PS: é fase rs

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  2. A industria farmacêutica fatura bilhões com medicamentos para "curar a loucura", acontecem tragedias e a cilpa é da "loucura"- isso quando não é o proprio mercado que engarrafa "loucura". Chegamos a um nivel tal de individualismo que não conseguimos enchergar que não é o individuo, mas sim a sociedade que está doente.

    E tem gente tão cara-de-pai que ainda consegue vender soluções apocalípticas para o problema em capsulas e doses homeopáticas.

    Se o mundo está doido, sejamos mais doidos que o mundo...

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