Um desabafo deste ser uterino quem vem tentando a cada dia, deixar de ser mulher. Mas entende que isso não significa reprimir ou fazer com que os desejos deixem de existir. Trata-se de resignificá-los por completo. Mudar a forma como pensamos e como fazemos sexo.
Eu ando um tanto cansada de ser bombardeada por essa mesmisse sexual que temos por aí. O sexo nos é apresentado desde a mais tenra idade de formas antagônicas. Instituições como a família e a Igreja nos apresenta a ele com algo sujo, indevido, pecaminoso e feio. Mas a mídia e a sociedade de forma geral nos entopem de luxúria e desejos, mostrando como sexo é bom e prazeroso.
É claro que se você nasceu com um pênis a forma como essas coisas são apresentadas a você é bem diferente das que seriam se você tivesse nascido com uma vagina. Eu nasci com uma vagina. Então fui ensinada que deveria ser recatada e resguardada. Me disseram que não deveria usar determinado linguajar, e que deveria manter as perninhas fechadas.
Mas aí a gente cresce, estuda um pouco... Nem é preciso ler muito nem se aprofundar nos estudos sobre feminismo pra descobrir que todas essas convenções são pura merda marrom e fedida!!!
Nessa hora fica fácil jogar a calcinha cor-de-rosa pela janela e abrir as pernas num grande gemido que só queria dizer “eu posso, eu faço!”.
Eu entendo tudo isso, sabe. De verdade! Mas acontece que depois do primeiro gozo, a gente começa a enxergar certos padrões sexuais, e a cada dia vamos abrindo a cortina e nos vendo dentro destes mesmos padrões. A gente começa a aprofundar os estudos, ler um pouquinho mais, meter fundo a cabeça nas pessoas que realmente valem a pena... E aí começa a ficar um pouco mais difícil conviver socialmente...
A grande maioria das pessoas está condicionada sexualmente. E sexualmente aqui quer dizer no ato do coito em si. Eu explico. É que se criou uma espécie de roteirinho para o sexo. Não sei precisar muito bem quando ou como isso foi criado, mas acredito que uma dedução bastante lógica mistura valores machistas com indústria do sexo, se tornando bastante acessível com a produção em massa de filmes pornôs.
Mas vamos por partes para não confundir.
Primeiramente os valores machistas. Ah! Claro! Ele está em tudo, como o ar que respiramos! Onipresente e onipotente o machismo nunca brocha!
Todo menino, nascido com um pinto, é ensinado a idolatrar a própria pica. Desde sua vida intrauterina, ele já ouve que tem que crescer pra traçar as bucetinhas da região. “Segurem suas cabras porque meu bode está solto”. Que menino nunca levou um tapinha nas costas da família ao apresentar ou ser pego com a primeira namoradinha? “É isso aí garotão!”. Pois é. Eles são ensinados, melhor dizendo, ADESTRADOS, a pensar e a acreditar que somente o seu próprio prazer é o que importa, o restante é secundário. E isso é regra.
Aí entra a indústria do sexo com seus filmes cheio de cores, sons e falsas impressões. Acho que não é novidade para ninguém, ou pelo menos não deveria ser, que os filmes pornôs são feitos para os homens. Sim, especificamente desenhados e projetados para o prazer masculino. No entanto, para olhares bem adestrados e não muito atentos, infelizmente, isso pode ficar levemente escondido.
Justamente porque os homens estão adestrados (faço questão de frisar bem este termo, para ver se fica claro o processo do qual estou tentando tratar) a pensar em si mesmos como máquinas de sexo, eles são quase incapazes de perceber que podem não estar agradando. Sim, querido ser peniano, você muito provavelmente não é assim tão bom de cama quanto pensa.
E os filmes pornôs estão aí cumprindo seu papel social da difusão deste mito da pica dourada. Mulheres gemendo loucamente, sendo penetrada quase que ininterruptamente, só param de gemer quando a boca está ocupada chupando o pau, claro... E é exatamente aí que mora o roteirinho do sexo. Tudo começa com uns beijinhos, roupas sendo arrancadas, aí o cara já vai logo mostrando que é bem treinado, mete a mão na sua bunda, aperta seus peitos, mete os dedos frenéticos dentro da sua calcinha e pronto, ele já está pronto pra meter. E acredite, desde antes do diretor gritar “ação” é só nesse momento que ele pensava.
Só que sexo na vida real é levemente diferente daqueles dos filmes que você assiste no PornoTube. Principalmente se você resolveu por um fortuito divino trepar com uma dessas que já meteram fundo a cabeça nas pessoas certas e andaram lendo e estudando mais do que é socialmente aceito para uma mocinha.
Sabe, se você procura por uma boneca inflável eu tenho uma novidade para você: SÓ PORQUE EU POSSUO UMA BUCETA NÃO QUER DIZER QUE EU SEJA UMA BONECA INFLÁVEL!!! E acredite, a sua pica não é de ouro e, mesmo que fosse, não significaria que ser penetrada por ela me traga o êxtase absoluto. E eu também não vou ficar gemendo e fingindo somente para satisfazer seu ego machista. Não, eu não estou aqui para o SEU máximo deleite.
E tem mais uma coisa que é igualmente importante: só porque eu falo sobre sexo abertamente, sem pudor ou o recato que a sociedade diz que uma moça deve ter, não significa que eu esteja me jogando em cima da sua pica, e nem te dá o direito de achar que você pode fazer com meu corpo o que bem entender.
Você gosta de sexo? Ok. Eu também gosto. E eu não tenho nada contra sexo casual. Não estou buscando casamento, romantismo e juras de amor eterno. Eu também tenho desejos e as vezes surge aquela vontade de simplesmente foder. Mas entenda bem o que isso significa!
O ato sexual tem que ser entendido como uma troca de energias. Sim, energias! Não é uma mera troca de fluidos corporais e gemidos banais. É urgentemente preciso quebrar o paradigma do roteiro pornô, cortar fora o dogma central que envolve o ato.
Liberte-se! Entenda que suas e minhas zonas erógenas vão muito além dos nossos órgãos sexuais. Explore! Mude o ritmo! E você vai descobrir que é capaz de sentir e de proporcionar prazer de várias formas. Nós estamos todos adestrados a sentir prazer somente de uma forma, como se orgasmo fosse uma receita de bolo, você segue sempre as mesmas medidas, sempre à mesma temperatura e voilá.
Que bosta de mundo machista! E o pior disso tudo, é a grande maioria das mulheres também foram muito bem ADESTRADAS. E lá vão elas para o banco de traz do carro de seus namorados, para as camas de motéis, escondidos de seus pais, achando e acreditando que estão libertas, que os tempos são outros, não precisam mais casar virgem e provar que sangram na primeira vez. Lá vão elas, como galinhas enfileiradas prontas para o abate, abrir as pernas, soltar uns gemidos, receber a pica, passar anos de suas vidas sem ter ideia do que seja um orgasmo de verdade, e julgar que isso tudo é absolutamente normal... Ouço com relativa frequência que muitas fingem orgasmos apenas para fazê-lo parar! Afinal, não se pode ferir o orgulho do ser peniano, não é mesmo... Sem o grande falo estaríamos todas perdidas...
As mulheres seguem sonhando em conquistar o pênis próprio, os homens seguem acreditando que todas as bucetas lhes pertencem e são todas seus brinquedinhos, e a sociedade segue assim, com gozos que vem necessariamente acompanhado de porra e falsos gemidos femininos...
E quanto a nós, aquelas que falam sobre sexo sem pudor, que trepam sem medo dos rótulos, mas que já estenderam que PODER trepar com quem bem entender não é sinônimo de TER que trepar com quem bem entender, nós que lemos mais dos que nos é permitido, e que desafiamos o intelecto dos seres penianos, também desafiamos suas picas. Sim, porque nós já não nos sujeitamos a sermos bonecas infláveis receptáculo de porra.
Gostei do texto, porém há algumas partes muito generalizantes ainda. Nem todos os homens "seguem acreditando que todas as bucetas lhes pertencem" e nem todas mulheres são "galinhas enfileiradas para o abate". Muitas mulheres se permitem sentir prazer - quando encontram o cara certo, é claro*. No entanto, já conheci várias pessoas que buscavam apenas o sexo "padrão" - sem querer experimentar coisas novas ou diferentes. E isso não vai mudar. É a natureza humana. Uma gama de frequências sem filtros isoladores.
ResponderExcluir*E vice-versa.
Em primeiro lugar, acho que o sexo padrão tb é válido e faz parte da diversidade e da multiplas possibilidades de encontrar prazer, além de um excelente método de expressão afetiva, como todo sexo (mas isso é um item opcional que pra mim é um importante tempero-nada melhor que transar com quem vc ama)
ResponderExcluirOutra que, pelo entendi, a critica do texto não é aos seres penianos, mas a sociedade falocêntrica. É claro que toda regra tem excessão, mas ao GENERalizar, se coloca o conceito "homem" na seu devido lugar: como uma peça de engrenagem num mecanismo socio-cultural bem mais complexo no qual ela mesmo acaba se tornando reprimido.
Gostei do texto, mas compreendo esta generalização..
ResponderExcluirConfudem a qualidade/sentimento x quantidade/prazer..
Mas como existem homens programados, existem mulheres também..
Assim como existem seres com mais sensibilidade que se preocupam com o ato e troca de sinergia!
Abraços