O tema hoje é prostituição! Inspirada pelo filme da Bruna Surfistinha, resolvi vir aqui e deixar as palavras correrem. Esse foi um filme que me surpreendeu bastante, tenho que dizer. É que a gente, querendo ou não, acaba formando opiniões que são fechadas, seladas por uma série de coisas que vão acontecendo ao longo de nossas vidas.
Nossa sociedade, pautada nessa moral judaico-cristã, “condena” a prostituição. Na verdade condena o sexo. Aliás, pra ser ainda mais precisa, condena o sexo às mulheres. Porque aos homens ele nunca foi negado, nunca mesmo! A eles cabe a divina missão de espalhar a semente pelo mundo, “multiplicai-vos”. A elas cabe a resignação ao lar e ao macho alfa que a domina, seja ele quem for. Portanto, é bem fácil de perceber que prostituta é ralé, né...
Condenar a prostituição por esses motivos, dizer que essa não é uma profissão digna, ou aquelas frases do tipo “eu prefiro ir limpar privadas do que vender minha buceta”... Bom, essa é aquela velha e chata visão de direita, critã, machista etc. Me desculpem, mas não me sinto compelida a falar sobre essa visão. Já tô bastante cansada dela e, no momento, sem muita paciência. Além do que, não foi por causa dela que eu resolvi começar a escrever.
Aquela história de meninas pobres, que foram vendidas, arrancadas de suas casas, as vezes levadas a outros países, forçadas a vender seus corpos. Meninas e mulheres que caem na vida por desespero e necessidades extremas. Sim, sim, sim, isso tudo é muito triste e mais demonstrações cruas e nuas do falocêntrismo nosso de cada dia. Mas também não foi para falar disso que eu vim até aqui.
Na verdade, o que o filme me motivou a pensar foram naqueles casos que a gente raramente pára pra pensar: quando a mulher realmente opta por ser puta! Quando ela pára tudo por algum motivo, larga tudo por algum motivo, e simplesmente decide que agora ela vende sexo.
Agora, aqui, puxando bem pela memória, acho que a primeira vez que parei para refletir verdadeiramente sobre prostituição, fora dessa esfera social-cristã, foi na época em que eu fiz teatro. Me lembro um dia, durante uma dinâmica, a professora falando sobre interpretar, emprestar seu corpo a outra pessoa. Sim, porque o personagem é outra pessoa. E, muitas vezes, é uma pessoa que faz coisas totalmente diferente das coisas que você faz ou faria. E ela lançou a pergunta, assim mesmo, sem pudor, como tinha que ser “qual é a diferença entre os atores e as prostitutas? Qual a diferença entre o pedreiro e a prostituta? Todo mundo vende o corpo, não vende? Que diferença faz a forma como vendemos nossos corpos? Por que umas são aceitas e consideradas dignas e outras não?”.
O capitalismo mascara a opressão sob lindas formas. Mas a verdade é que tá todo mundo sendo fodido, e tem de tudo vindo: tem o sujeito que coloca talco demais no pau, tem o que cheira mal, tem o que tem fetiches estranhos, tem o que vai pedir pra você mijar nele, tem aquele que só vai querer comer teu cu e nada mais, tem aquele que só quer boquete e faz questão de que você engula a porra toda. É isso aí. Qual é a diferença?
Carteira assinada, férias, décimo terceiro, fundo de garantia, aposentadoria... Tudo ilusão do sistema! Um plano muito bem articulado pra nos colocar na linha. Você finge que goza, eles fingem que acreditam e te jogam o dinheiro na cara. E você cála a boca, pega o dinheiro, se tiver sorte toma um banho, troca o lençol e parte pro próximo.
Pra mim o ponto auge do filme foi quando ela sai do hospital. O tal do Hudson oferece tudo a ela, diz que quer tirá-la dessa vida, diz que ela pode voltar a estudar, fazer faculdade. E ela responde que ela não quer viver nesse mundo, foi justamente tentando fugir dele que ela largou tudo, saiu da casa dos pais e decidiu virar puta. E ela pediu que ele tentasse entendê-la, ele não é o príncipe encantado, nem o homem que vai tirá-la dessa vida, porque se um dia ela sair dessa vida, vai ser do mesmo jeito que entrou, sabendo que foi uma escolha dela, e de mais ninguém.
A grande verdade é que o fato dela ser uma prostituta é apenas um detalhe, nessa história toda. Ela poderia ter ido trabalhar numa loja, podia vender sanduíche na praia, podia atender telefone em algum escritório, podia até ter feito a tal faculdade e ganhar mais dinheiro, com mais prestígio... Tando faz. Nada disso faria diferença.
Para o capitalismo todas as profissões são a de prostituta, estamos todxs ali deitados de pernas abertas, para satisfazer os desejos dele... Sempre os dele...
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